Para analistas, governo de transição precisa mostrar postura mais amigável ao mercado para inverter tendência de baixa
por Mitchel Diniz – 
18/11/2022 – 14h43

 

(Fonte: Infomoney – https://www.infomoney.com.br/mercados/bolsa-esta-barata-mas-pode-valer-menos-ainda-com-politica-fiscal-sinalizada-por-lula/ )

Para um mercado que dizia ter “precificado” a eleição presidencial, a Bolsa e o dólar têm vivido um período de volatilidade acima da média. Os movimentos de forte volatilidade refletem o incômodo dos investidores com as sinalizações de Lula, eleito presidente por uma diferença apertada de votos, e sua equipe de transição sobre a condução da economia nos próximos quatro anos, além das incertezas sobre os nomes para os ministérios.
Até o pregão de ontem (17), o Ibovespa acumulava uma queda de mais de 5% em novembro, mês que começou com a Bolsa emplacando uma sequência de altas, com o índice indo de 116 mil para abaixo dos 110 mil pontos. O dólar, por sua vez, avança 4,5% no mesmo período. Na véspera, após ter chegado a R$ 5,53, a divisa americana amenizou e fechou a R$ 5,40, mas ainda nas máximas desde julho. Os percentuais só não foram maiores porque os investidores repercutiram de forma positiva a saída do ex-ministro Guido Mantega da equipe de transição, alegando “tumulto dos adversários”.
Segundo economistas, Mantega “remete à política econômica que naufragou com a ex-presidente Dilma Rousseff”. Mas a aversão ao risco está longe de cessar, já que o nome mais forte para substituir Paulo Guedes na Economia parece não agradar nem um pouco os agentes do mercado: Fernando Haddad, que concorreu ao governo de São Paulo este ano e já foi ministro de Lula.
Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital, acredita que dificilmente o titular da pasta será um economista renomado. Segundo ela, a indicação tende a ser política para facilitar o trâmite do Executivo com o Congresso.
“Não considero ruim que o ministro seja um nome político, desde que os cargos de secretários sejam preenchidos por técnicos, que tenham condição de desenhar uma política fiscal”, afirma Argenta.
A economista lembra que a política fiscal do governo Lula só deverá ter efeito a partir de 2024, já que, no próximo ano, ela estará sendo desenhada. Portanto, segundo ela, o mercado está se comportando de forma “exacerbada” diante de perspectivas de curto prazo, ou seja, refletindo incertezas e gestos que surpreenderam negativamente.
É o caso da PEC da Transição, que propõe retirar R$ 175 bilhões do teto de gastos de forma permanente para financiar programas sociais.
“É um cenário grave. Do ponto de vista do equilíbrio fiscal, a PEC traz uma sinalização totalmente oposta, de irresponsabilidade”, afirma Andrea Damico, sócia e economista-chefe da Armor Capital.
“Sempre foi sabido que o governo Lula iria colocar ‘o pobre dentro do orçamento’ como ele sempre disse e essa proposta foi a vencedora do pleito em outubro, mas a comunicação deste plano tem se tornado traumática além da conta”, escreveu André Perfeito, economista-chefe da Necton.
Segundo ele, por um lado é positivo que o governo de transição assuma manutenção do teto. “Contudo, sem ter deixado claro outras peças do tabuleiro, a impressão que se dá é que vão construir na lage uma piscina maior que as colunas do edifício aguentam”, afirma.